Dizem e com toda a propriedade, que nenhum filho traz manual de instruções... Não traz e os desafios são tantos... O caminho à frente é tão incerto que fazer opções, (tomar atitudes e determinadas posturas), perante os mesmos, por mais pequenas que possam ser, é muitas vezes uma duvida angustiante.
- Fazemos o melhor que pudemos... mas o problema é fazermos o melhor que pudemos dentro daquilo que no fim, seja mesmo o melhor - que nem sempre sabemos e cujos meios/instrumentos, muitas vezes, não temos.
Não Sabemos, não há como saber... e muitas vezes não temos, nem temos mesmo como ter. Arriscamos, portanto... seguimos instintos, abrimos portas sem saber o que nos espera do outro lado - as coisas dependem sempre de muitas situações alheias a nós, do desconhecido, do imprevisível, dos outros... E no fim os resultados são e serão sempre fruto das opções e posições que tomarmos, com aquilo que temos. Isto é extremamente difícil, ingrato e algumas vezes inglório. É uma prova demasiado exigente que tem risco de extravasar as capacidades de quem tem à partida o desafio de educar, formar e fazer da vida dos filhos com condição considerada diferente, uma vida futura condigna. Mas, não vejo outro caminho...
Aceitar, dizem que nos dá tranquilidade, serenidade...
Mas aceitar o quê? Do que é que se fala quando se diz aceitar um filho diferente? Aceitar esse filho exatamente como ele é e decidir calmamente que se ele tem uma determinada forma de ser, estar e agir, tem de ser respeitada e não adianta muda-lo...?
A mim não me serve, não me traz tranquilidade nem serenidade - Nenhuma mãe aceita os filhos como os recebe à nascença e por isso, legitimamente luta em cada dia para mais e melhor capacita-los para a vida. Com as mães de filhos com alguma diferença, passa-se exatamente o mesmo - Não nos resignamos a uma aceitação conformista porque sabemos que eles - como todos - crescem, evoluem, aprendem, especialmente se houver verdadeiro "investimento" neles - da nossa parte (família) e do mundo.
Aceitar como eles são - sim, mas com a ambição que incumbe e assiste naturalmente a todos os pais e mães, de querer que sejam gente na sociedade! GENTE!
Mas a sociedade por vezes acusa-nos de queremos o impossível, de não vermos nem aceitarmos a realidade (normalmente a limitada realidade dos que assim pensam), de não nos resignarmos, de querermos mais, de queremos muito... Quando os pais/mães de filhos diferentes querem mais, não raras vezes são apelidados de utópicos, de sonhadores, de problemáticos, de estarem em processo de luto...
Esta miserável questão, entre a saudável ambição de querer mais para um filho diferente e a filosofia de uma parte da sociedade que nos rotula como mães em luto, que se aceitássemos, resignaríamos e seriamos mais felizes, enoja-me! Aceito há bastante tempo o meu filho tal como ele é, e por isso mesmo sei que tem potencialidades e capacidades pelo que lutarei por isso, mesmo que me queiram fazer sentir que estou em luto. O meu luto a existir prende-se com a constatação de uma parte demasiado grande da sociedade, me negar esses direitos, de mos tornar de acesso tão difícil, de mos fazer a cada instante mendigar por eles! É esse o meu luto, é isso que ainda não aceito com a devida calma e é isso que espero nunca vir a aceitar com calma nenhuma. Quero, como todos os pais, o melhor da vida para o meu filho, mesmo sabendo que o mundo é "sometimes a horrible place to be"... Na verdade e a sê-lo, é-o para todos, mas também é verdade que somos nós todos, que vamos fazendo o mundo.
Hoje, aquilo que quero dizer às mães que eventualmente sejam colocadas em duvida pela força desta hipócrita "corrente" (como eu também por vezes sou), é que lutem, invistam, acreditem, mobilizem porque o que interessa são mesmo os nossos filhos e a nossa força, se começar a ser comum e visível, alguma influência tem no caminho dos nossos filhos! Além do mais, queria deixar algumas reflexões que por vezes ainda faço: Se não formos nós a faze-lo, quem será? Se não o fizermos, estaremos em condições de esperar o quê dos outros?
(Depois e pessoalmente penso tantas vezes no orgulho que o meu filho pode ter em nós quando o fazemos!)