
Não é fácil manter uma postura optimista, neste mundo cada vez mais louco! Situações de vida que vou conhecendo, geradoras dos meus mais conflituantes pensamentos. Às vezes dou comigo num embróglio tão grande de dúvidas filosóficas e quase existênciais, que quanto mais penso, menos conclusões tiro.
Por norma, sou adepta de uma linha de pensamento que coloca no ser humano, a insatisfação como estado permanente - o que faz com que nunca se esteja contente, seja qual for a condição. Ora, este sentir limita os eventuais momentos de felicidade que todos poderíamos usufruir mais, caso tivessemos capacidade para apreciar as coisas belas da vida. Como, por regra damos grande ênfase aos "fados" que encontramos pelo caminho e às coisas que não temos, desvalorizamos os milagres diários com que também somos premiados. Parece uma conta simples de fazer.
Páro para reflectir um pouco melhor, e logo se me avolumam outras hipóteses mais complicadas, mas tão ou mais legítimas que a anterior... E sinto-me enfraquecer nas convicções. Se me deixasse ficar por ali, a conta estava feita e o resultado apurado - voltar-me-ia assim para a minha vidinha (que já me dá que fazer) e pronto cada qual tem as suas doses.
Mas este meu questionar incessante, inerente à minha pessoa, leva-me quase sempre a OLHAR para os lados e a VER um pouco melhor as razões dos outros.
Como não tenho grande estaleca para o sofrimento alheio, claro está que tenho dias que caio por terra, sinto dores que não são as minhas,(somadas naturalmente às minhas), e sinto-me tentada a desistir desta mania de parar para pensar e olhar para os outros.
Depois ralho muito comigo e digo-me que afinal não tenho o tamanho que às vezes julgo, que sou uma covarde quando penso em virar as costas a quem precisa só porque me "incomoda" a alma; que tenho muito a crescer e a aprender sobre solidariedade... Ralho mesmo muito comigo e digo: O que seria de quem precisa, se todos se "incomodassem" como tu, se todos tentassem "fugir" como tu?
Aí, olho-me ao espelho e sinto-me desarrumada por dentro... Respiro fundo, sorrio e lá parto mais uma vez, rumo a outras tentativas de compreensão e apoio que gosto de dar aos outros, porque também sabe bem receber.
De facto, cada vez mais, dou o braço à palmatória e entendo que a tal insatisfação das pessoas, por vezes não é assim tão infundada. É que Ouço histórias e relatos de outras vidas - absolutamente impensáveis - e pergunto-me como me sentiria eu neste filme? Teria o mesmo optimismo? Aquele optimismo que defendo como melhor opção de vida?
Mas porque raio tenho eu de olhar para os lados para fazer "voluntariado"? Será por educação? Será defeito? Estareí inconscientemente a tapar as minhas dores, ou é mesmo feitio?
Vejo tudo à minha volta a desmoronar e mesmo estando "inocente" e sendo alheia aos casos, roí-me a consciência, a tranquilidade ...
Como posso sentir-me optimista e feliz, quando de uma perspectiva diferente da minha, muitas pessoas sucumbem neste momento às suas realidades, mesmo por baixo do meu nariz? Como posso receitar optimismo, a quem rastejando sobrevive, no meio de verdadeiras trovoadas?
Através dos meus olhos, procuro sempre ver o belo, a bondade dos que a têm, o milagre de estar viva, de ter uma casa, comer, poder ter amigos, e uma familia maravilhosa.
Atraves dos meus olhos, como milhares de pessoas, não tenho emprego mas penso nisso como uma oportunidade para fazer coisas que gosto, para dedicar-me mais um pouco aos outros, para estar mais tempo com o meu filho, para ler, aprofundar conhecimentos... (e tudo se há-de arranjar).
Através dos meus olhos, e ainda que o meu Vasco tenha Autismo, só consigo ver aspectos positivos nele, e acredito que o futuro também me trará alegrias como hoje, e que as coisas vão melhorar na sociedade, porque antes já estiveram bem piores...(Procuro nunca ver o que não tenho - não sei se porque tenho muito, ou se porque valorizo o pouco que tenho).
Direccionar os olhares para o lado mais negro, parece-me apenas uma "opção", tão razoável como dirigi-los para o melhor lado... São ambos igualmente reais porque penso que tudo tem dois lados, pelo que não se vive na mentira ou ilusão por preferir um deles... Acho que devemos escolher aquilo que nos faz sentir melhor, porque a vida é curta, é única (até prova em contrário) ... Acredito que estamos aqui para viver, (evitando sobreviver).
Vasculho as possibilidades todas e claro que sempre tenho as minhas respostas, porque não me quero desviar de mim - da minha essencia, nem que tenha de vasculhar o tempo todo.
Sei que apesar das duvidas, no dia seguinte voltareí à carga, sorrindo com o meu optimisto natural aos que me rodeiam e que eventualmente pareçam estar a precisar de uma lufada de ar freco ... mas ao mesmo tempo confesso que também receio que o justificado negativismo de tantos que me rodeiam, acabe por me fazer vergar.