sábado, 30 de outubro de 2010

ESCOTEIROS (Continuação)


... Quase uma hora da manhã e ainda não se dorme cá por casa. Os telemóveis estão à mão e o pensamento voa, tentando imaginar como terá adormecido o nosso menino, sem os nossos abraços, sem os beijos e as conversas de final de dia. Mas a verdade é que o telemóvel não tocou, o que quer dizer que ele adormeceu bem, sem nós.
Estamos apenas os 2 - o Vasco foi passar a noite no "abrigo" dos escoteiros, com os companheiros do seu grupo!
Ia carregado: saco cama; 1 muda de roupa; meias, boxers, alimentos para o pequeno almoço e ... um dos seus panos (tipo fralda) para aconchegar à cara antes de adormecer. Não há noite que passe sem este elemento, pelo que o coloqueí na sua mochila, mesmo sem que fizesse parte da lista de coisas a preparar. (Coisas de mãe - podia fazer-lhe falta caso se sentisse mais inseguro).
Ficou, por entre risos e brincadeiras, com os outros meninos e por momentos senti que levitámos... Antes, observeí como se divertiam juntos, como corriam para se esconder no jogo das escondidas, como se colavam uns aos outros no jogo da cobra pegajosa, e como formavam filas alinhadas, perante o olhar atento da chefe do grupo, que os dirigia como numa pequena orquestra - Formatura executada com sucesso. E o nosso menino estava lá!
Deixamos o local com a certeza de que se iam divertir muito e com o peito cheio de alegria e esperança, porque afinal de contas as portas se vão abrindo lentamente. Este pequeno acontecimento, tem a dimensão de uma vitória tremenda para nós, que não seria possivel sem que do outro lado houvesse vontade...
São estas as oportunidades porque luto, mas ninguém pode lutar de portas fechadas! Por isso, e pelo que significa esta noite, o meu eterno e profundo agradecimento ao Grupo de Escoteiros de Vialonga, às chefes da Alcateia, aos meninos que integram o grupo e seus pais.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

SUBINDO DEGRAUS


- Atender cada vez melhor o telefone de casa;
- Lavar sózinho os dentes;
- Escrever e ler cada vez mais e melhor;
- Fazer contas de até 3 dígitos em máquina de calcular;
- Lavar a loiça;
- Jogar "Sonic" no computador (muito melhor que a mãe e o pai);
- Andar nos escoteiros;
... e tantas outras conquistas!!!

Eis algumas das conquistas deste meu grande heroi - o Vasco - que me fazem sonhar e ter momentos de felicidade dificeis de conseguir explicar!
Talvez tudo se torne mais claro, se vos disser que não há muitos anos atrás - (talvez há uns 5), ouvi da boca de uma conceituada médica especialista a seguinte frase:
"Ele poderá nunca vir a dizer uma palavra".

Podia e muitos há que não chegam efectivamente a subir esse degrau, mas na minha modesta opinião, não se deviam confrontar os pais com tal verídito antes do tempo!
Será que equacionam o impacto deste prognóstico nos pais? De que vale sobrecarregar-nos com esta sentença de quase "morte"? Que beneficios trás à criança e sua familia pensar que o pior pode acontecer, quando o futuro também pode vir a revelar-se melhor?
Perguntas, para as quais dispenso respostas. Não olho por muito tempo para trás... O nosso caminho é em frente, esperando sempre o melhor, consciente de que ser autista não é lá grande ponto de partida, numa sociedade ainda em desenvolvimento de mentalidades, com falta de recursos, de dinheiro e de vontades... mas se até aqui temos conseguido viver momentos felizes, porquê não acreditar que assim prosseguiremos? Percalços, sempre existem em todos os caminhos, importa não os vivermos antecipadamente, porque eles já pesam bastante quando chegam!

Petição ‘O que queremos é viver’ – Movimento Vida Independente em Portugal

Pretendo Assinar a Petição ‘O que queremos é viver’ – Movimento Vida Independente em Portugal

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

STING (FRAGILIDAD)

SEM COMENTÁRIOS...


sábado, 9 de outubro de 2010

VER COMO OS TEUS OLHOS VÊEM...



Ultimamente o Vasco mostra um interesse extremo em fotografia. Diz que ele é que é o fotógrafo e sob os mais variadíssimos ângulos e interesses, lá vai debitando fotografias do meu telémovel, com grande prazer. O dito aparelho, é felizmente de uma resistência incalculável suportanto uma ou outra queda ou tiragem de foto mais efusiva e entusiástica, sem ceder. De inicio ainda lamentáva a sua sorte e chegueí a dar-lhe pouco tempo de "vida", mas este telémovel deve ser mesmo bom e nos ultimos tempos é um companheiro inseparável do meu filho. Com o tempo fui espreitando o seu trabalho fotográfico e comeceí a reparar que tinha arte... Consegui em cada foto, perceber um pouco da forma de ver as coisas, do meu menino. Ver como os seus olhos vêm e surpreender-me em cada momento. Talvez sejam os meus olhos de mãe a valorizar algo que poucos conseguirão ver, mas para mim desenha-se um futuro artístico de valor. Nem que sejamos (eu e o pai), os seus únicos fãns e os maiores reconhecedores da sua arte.
Hoje e após talvez mais de 4.000 fotos, equacionamos oferecer-lhe um telémovel ou uma máquina fotográfica digital - dar-lhe asas à imaginação e abrir novas portas no caminho dos nossos mais simples sonhos de pais.
(Deixo-vos um slide-show com algumas das suas melhores fotos)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

"EXPERIÊNCIAS" NÃO LABORATORIAIS

O que não fazem os pais pelos seus filhos? A resposta esperada é sempre óbvia: os pais fazem TUDO pelos seus filhos. Connosco, não é diferente, e as nossas cabeças fervilham em busca do que de melhor possamos proporcionar ao Vasco. A diferença reside apenas, nas limitações que temos à partida,(nem sempre fáceis de identificar). Antes de mais, precisamos que nos aceitem e nos permitam integrar o nosso filho nem que seja para fazer uma "experiência". Por outro, temos de compreender e aceitar que nem todas as actividades poderão ser benéficas, seja pela falta de interesse que lhe lhe possam suscitar, ou porque os seus limites podem não lhe permitir estar bem nelas. Daqui advêem automáticamente sentimentos complexos de digerir, que talvez possam ocorrer, no geral com todos, mas que em pais de crianças com necessidades especiais, se podem revestir de particular dimensão. (A considerar:) - Dar o "frágil" peito de pais, ao possivel manifesto de recusa social, sem grande possibilidade de defesa; (quando pura e simplesmente os nossos filhos não são aceites). - Ter presente que a cada nova actividade que preconizemos para o nosso filho, (fora do contexto das terapias para a deficiencia), o estatuto inicial com que somos premiados é o da "experimentação", (dizem-nos, quando há boa vontade, que se fará uma experiência). - Refrear expectativas e gerir as que nos ficam como possiveis, um pouco às cegas, uma vez que nem sempre é fácil o reconhecimento exacto das limitações; (Seja porque se trata de um filho, seja porque pela própria problematica em si, tal definição não é matemática). - A exposição das excentricidades e dificuldades do nosso filho, perante um grupo de pais e crianças ditas normais. (Alguns, com as reacções mais insensíveis que se possa imaginar). - Possivel sensação de ampliação dessas dificuldades, nestes contextos. (Parecem tornar-se mais evidentes, ao pé de crianças que não demonstram as mesmas dificuldades). Com estes complexos sentimentos, muitos pais isolam-se e fecham-se erradamente em conchas distantes da sociedade, apenas para evitar um consequente sofrimento... Só que nestas conchas, a vida passa como que ao lado de tudo e as hipóteses de evolução da criança tornam-se remotas, bem como a tão necessária visibilidade e reconhecimento social, sobre estas realidades. Deixa-se de existir! Em contraponto: as hipóteses de alargar os nossos pequenos horizontes, com resultados reais e evidentes; a esperança de ir subindo degraus, de ir podendo fazer uma vida mais funcional, de chegar perto de uma vida quase normal... e mais do que isso, ter uma vida feliz! Paralelamente, aparecer aos outros é um meio de derrubar as barreiras do desconhecimento e da ignorância que costuma acompanha-lo tantas vezes, abrindo inclusivé caminho aos que se seguirão a nós para que esse caminho seja cada vez mais facilitado. Tem muitíssimo mais peso! Como, há já algum tempo, ultrapassamos os complexos sentimentos que atrás refiro - precisamente passando por todas aquelas situações sem ceder ao isolamento, e em abono da verdade porque o Vasco tem subido importantes degraus que aumentaram as nossas expectativas - cá continuamos o caminho... Desta vez pensámos mais alto, e arriscámos inscrevê-lo nos ESCUTEIROS. Contactámos os Escuteiros de Portugal, expondo abertamente a situação. E foi com a mesma abertura que fomos bem recebidos. Sábado próximo será a 3ªvez que o deixamos por 4 horas entregue ao grupo. Acreditamos que pode ser positivo para todos, mas estamos receptivos ao facto de o poder não vir a ser. (Prometo ir dando notícias por aqui).

sábado, 2 de outubro de 2010

"O GRITO"





Video feito por um pai muito especial, dedicado ao seu filho (com perturb. do espectro do autismo).
 
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