quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

RELOGIO DE PULSO E DE PAREDE

Sem duvida que o Vasco sabia bem o que queria de prenda no Natal! Um relógio de Pulso e um relógio de parede...
Como eu disse, procuraríamos todas as lojas, se fosse preciso para as encontrar, mas facilmente demos de caras com as ditas prendas, que repetiu querer, sempre que reformulavamos a pergunta (não fosse ele mudar de opinião). Recebeu outras e gostou bastante de tudo, mas nada se compara à alegria sentida no desembrulhar dos seus relógios! Só mesmo vendo...

domingo, 27 de dezembro de 2009

UM 2009 RELATIVAMENTE FELIZ

A terminar o mês de Dezembro, terminus também de 1 ano onde sempre acontecem muitas coisas, dá-se a habitual tendência para o recapitular dos dias que o compuzeram, de forma unica para cada um de nós.
- 365 dias... tantos dias, trazem sempre consigo um pouco de tudo. Importa reflectir nos nossos actos perante as situações, no que fizémos, no que deixamos de fazer, que opções tomámos e quais as que não nos deixaram hipótese de escolha... No fim "espreme-se" tudo, e no "sumo" que cair no copo fica o resultado: doce ou amargo correspondente ao resumo do ano.

Por mim nem preciso reflectir muito, porque sinto-me relativamente feliz!
Vou tendo a saude necessária que me permite seguir caminho sem paragens; temos a força de uma união a dois que se vai solidificando e nos vai fortalecendo os dias; o nosso Vasco tem correspondido com evoluções muito importantes... e com isto o ano tinha já saldo altamente positivo.
Depois, vamos podendo pagar as contas, continuamos a poder fazer face às necessidades que surgem e acima de tudo temos comer no prato, que felizmente até podemos escolher...
De uma forma global, olhando para os lados, sinto que temos tantos previlégios que por mais duras que possam ser algumas questões, no final das contas o gosto que fica por mais 1 ano passado, tem de ser necessáriamente doce. Seria ingrato sentir diferente... Mas na verdade sinto-me relativamente feliz, naturalmente.
Penso que grande parte das pessoas, talvez não veja bem os imensos previlégios que têm, não avaliam como nota alta determinadas capacidades nem o conforto que vão tendo, não valorizam os aspectos mais emocionais da vida, nem a paz de que ainda são feitos os nossos dias por cá. Fixam o seu pensamento em tudo aquilo que não têm e por conseguinte neste recapitular anual, o apuramento do resultado saberá sempre a insuficiente. O sentimento de insatisfação não trás felicidade e normalmente vem acompanhado de uma ambição inutil que gasta os preciosos dias que temos de vida, sem vivê-la realmente, nem que seja aos bocadinhos...

Não vou deixar os habituais votos de que o Natal tenha sido bom, e de que o ano novo seja muito feliz, porque é demasiado lugar comum... Vou, ao invés fazer o que faço todos os dias - antes de mais agradecer o que tenho, depois pedir discernimento para saber enfrentar os obstáculos que não possam ser mudados e força para contornar os que o possam ser; finalmente dizer que o que desejo para para mim, desejo igualmente para todos... mas Deus sabe que não consigo passar muitos dias, sem pedir-lhe que esteja principalmete do lado daqueles que mais precisam, porque a dor e o sofrimento, são um bocado como o dinheiro, não estão nada bem distribuídos e como a fé é pessoal e é - como muitos dizem o que salva - de vez em quando vou falando com ele com muita fé, porque a relatividade da minha felicidade também se prende com o facto de reconhecer que vivo num mundo com disparidades brutais onde existem sitios plenos de miséria e desgraça, facto pelo qual por muita alegria que eu pudesse ter, ela seria provavelmente, sempre relativa.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

EMOÇÕES


... Rodeada de um jardim quase edílico, sento-me e oiço apenas os pássaros que por aqui circundam. Observo as boas condições desta instituíção, que já conheço há algum tempo.
Entro no edifício, bebo um café. No bar, sentados estão adultos especiais - pela pureza, pela docura, pelo diagnóstico... Um nome que carregam com eles e que dizem, dura por toda uma vida. Por momentos penseí nas suas mães, talvez nos tenhamos vestido da mesma cor, aquando da "sentença" que cedo nos transmitiram para o futuro dos nossos filhos. Algumas diferenças marcam no entanto as situações - o prognóstico: que difere desde os casos mais graves aos de "melhor funcionamento"; e o tempo: a evolução das coisas que ele arrasta consigo - a bem e muitas vezes a mal. Ainda assim, felizmente para as mães de hoje e sobretudo para aquelas cujos filhos têm melhor prognóstico, as coisas vão evoluíndo.
Olho discretamente para eles... um ou outro olha-me directamente, observa-me e ri. Depois um grito forte, alguma agitação e outro doce sorriso, que saído daqueles rostos de adulto/criança me invadem, provocando-me a mais terna sensação que não posso aqui descrever. Apetece sentar-me com um deles e tentar que nos comuniquemos. Falar a sua lingua, nem sei se é a mesma que a minha, por isso acobardo-me e deixo-me estar quieta.Por isso e porque não quero perturbar nada daquela paz harmoniosa que paira na sala de bar da instituíção que é a casa deles. Guardo as minhas vontades, amachucando-as dentro de mim como papel que não presta e deixo-me estar. Tinha tanto amor para dar-lhes... Ou talvez tudo isto sejam ilusões que a realidade do dia-a-dia com eles, me mostrasse ser diferente, caso eu pudesse ali trabalhar. Não seí e nunca sabereí. Mas sinto tanto amor por eles...
Também este "amor", confesso que muito provavelmente devo ao meu filho. Por ele os meus olhos viram já até hoje coisas que balançaram totalmente a vida rotineira, superficial e algo egoísta que por certo eu iria levar. Não quero aqui descrever ao pormenor, nenhuma dessas minhas vivências porque "desvirtuaría" a realidade, que muito mais que escrita por alguém, só mesmo vivida por cada um é que podería ser totalmente compreendida! Duvido, no entanto que fosse muito diferente o sentir como a vida é capaz de fazer-nos transpôr os mais duros obstáculos, sem esperarmos.
Na verdade sinto-me "dorida", mas também muito enrriquecida.
A primeira vez que vim a este local, vinha com o pai e com o Vasco. O assunto era ele... recordo a dor dilacerante que não me deixava sequer raciocinar, quanto mais ver alguma coisa...recordo que pouco ouvi do que me diziam as técnicas e pouco mais sentia que dormência e dor na alma, até ao fundo, ao mais fundo que se possa imaginar. Também vi os adultos - como hoje, o jardim, as instalações... tudo estava mais ou menos na mesma... tudo, menos eu e o pai, que perdidos no meio de um temporal sem fim, ainda punhamos a hipótese de que estar ali seria apenas um pesadelo do qual acordaríamos em breve, para contar um ao outro como passamos a noite.
Os adultos que hoje vi e pelos quais senti de imediato um doce carinho, recordo na altura me terem parecido profundamente alheados do chão onde eu costumava colocar os meus pés...
Passaram alguns anos, e cá estou eu mais uma vez, neste magnífico jardim, com um silêncio dos deuses que me dá espaço e tempo para pensar tranquilamente, arrumando as ideias e recapitulando bocados de vida. Felizmente com outras emoções. Emoções que evoluíram positivamente após muita luta interior, num caminho que ainda terá muito mais estrada a percorrer.
Hoje, de facto as emoções são outras, mas são sempre muito fortes emoções!
Saio daqui com um raciocínio mais lógico e com a certeza de que estas estruturas são necessárias. Saio também com a esperança e o sonho, de que a resposta para o meu menino virá a ser outra, e o sonho hoje vai comandando a minha vida.
De qualquer forma, vou com uma parte de mim vazia, um lamento profundo, porque apesar de os querer ver, como felizes ali, este inexplicável vazio que levo, contraria a ideia.
Observo-os e não posso dizer que saio daqui feliz porque pelo menos para estes adultos existem bons recursos... Na verdade desejava outra vida para cada um destes homens! Talvez seja certo e legítimo este meu sentir... ou talvez não. Ainda não consigo aceitar esta forma de autismo que aqui observo (grave), como apenas uma outra forma de ser... ainda não "evoluí" nesse sentido, nem sei se quero. Ainda mantenho os meus pés no chão, e penso que sei distinguir o que nos surge como dificuldade mas com esperança, de onde ela já não existe sob forma nenhuma.
Este autismo adulto (grave) deixa-me uma marca por achar que a sua impenetrabilidade e alheamento lhes roubaram muito desta vida. Deixa-me uma marca porque imagino em cada um deles, uma história familiar dolorosa e um futuro sem horizontes, nem expectativas.
Mesmo assim e no meu desespero em procurar o positivo, que acredito haver em todas as situações, encontro como privilégio só deles, o facto de que a tal impermeabilidade deles a esta vida, também os salvaguarda de irem conhecendo as coisas mais vís e sujas que por aí abundam, e como tal, naturalmente a felicidade também existirá nos seus corações, pelo menos em alguns momentos.

sábado, 12 de dezembro de 2009

ESTRELA DE NATAL


Nunca tive especial jeito para artes manuais. Digo-o com a mais pura das sinceridades. Acho até, que mesmo que existam técnicas para disfarçar esta minha falta de jeito, as coisas não me saiem brilhantes, porque falta sempre aquele toque de "mágica" das pessoas que nasceram com uma espécie de "dom artístico"... e em abono da verdade, também me falta um bocadinho de paciencia para este tipo de artes.
Sei apreciar e valorizo imenso quem o faz,(especialmente dada a minha inabilidade), mas definitavamente compro sempre tudo feito.
Acontece que por vezes outros valores se levantam e somos obrigados a enfrentar o "monstro"...
Da escola do meu Vasco, entregaram aos pais uma estrela em cartolina, para enfeitar e escrever uma mensagem, ao nosso critério, claro. Ainda penseí se incumbia o pai desta tarefa, mas acheí-o tão ocupado com trabalho que não tive coragem. Depois decidi que tinha que pôr mãos à obra, mesmo sem jeito e sem a menor ideia sobre como o fazer.
Tranquilizou-me pensar que como já existe um pouco de tudo, deveríam haver imensas coisas fáceis de fazer e em estilo "estalar de dedos", a estrela ficaría um espetáculo. O que eu não queria mesmo era que a sua decoração ficasse mal no "retrato", mas nem sabia por onde começar.

Como em outras ocasiões da vida, tive uma ajuda preciosa... Um casal simplesmente 5 estrelas - donos de uma papelaria e loja de artes decorativas mesmo onde nós moramos. Apenas costumo ir lá comprar o jornal ou cigarros e conhecia-os portanto, sómente de vista, (e julgo que vice-versa).
Entreí, olheí para a parte dos materiais e artigos já feitos e expostos, como um Burro olha para um palácio, a coisa afinal não ia ser assim tão fácil... mas prontamente fui atendida e acabaram por fazer muito mais que isso!
A estrela brilha no quadro, porque a minha vontade de facto era muita, mas muito porque no meu caminho surgiram, perfeitamente impecáveis, a Srª Helena e esposo que tiveram a grande amabilidade e paciencia de me dar uma espécie de "curso" intensivo de uns 30 minutos na sua loja, que ainda para mais estava aberta e com clientes a entrar e sair.
Fica uma sensação tão agradável quando somos tratados assim... e fica a certeza de que esta atenção reflecte uma acção gratuita, perfeitamente desinteressada e amavél de pessoas com aquele carácter especial, de que eu tanto preciso e gosto, mas que vai havendo pouco.
MUITO OBRIGADA

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

PARA PENSAR...


"Não tentes carregar os fardos sózinho. Uma falsa independência pode ser auto-destruídora.
A verdadeira força está em admitir que não se consegue tudo sózinho.
Pede ajuda ou carinho, sempre que precisares deles".
(Ane C. Fone)

Um bom pensamento para quem, por vezes caí nesta tentação ... Não há super-homens! (nem super-mulheres)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

DIA INTERNACIONAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA


... Hoje senti que devo ser muito exigente nas minhas ambições.

Acheí que este dia viesse a ser celebrado de forma mais vísível... que lhe dessem mais importância, especialmente nos media. Compreí jornais e vi televisão, mas nada de muito significativo li, que marcasse este dia, a não ser a possibilidade de andar de comboio gratuitamente, aos deficientes que o comprovem com documento próprio... Sabe-me a pouco e não quero alongar-me comentando a atenção da CP, porque alguma revolta começa a invadir o meu pensamento nesta altura... o que não é grato para com a "gentileza" da CP.

Sentimentos à parte, este é um dia importante porque é suposto - pelo menos nestes dias - destapar-se um pouco mais o véu que abafa muitas vezes a diferença, atrasando a sua caminhada positiva rumo a uma sociedade menos ignorante e mais justa.
Podem até dizer-me que já se conseguiu muito, ao que eu nem sequer contesto: concerteza que sim, mas em que posição estamos nesta matéria em termos práticos de vida dos cidadãos deficientes e suas familias? E para onde é que se pretende caminhar?
Sinto tudo "pouco"... os progressos parecem-me lentos. Persistem com alguma relevância, a indiferença e a intolerância social; faltam respostas de acompanhamento multidisciplinar sólidas, faltam respostas que equacionem todo um percurso desde a nascença até ao fim da vida das pessoas com deficiencia... faltam apoios de quase toda a espécie. Julgo mesmo, que nem sequer existe um estudo global, concreto e fidedigno que permita quantificar a deficiencia em numeros, por zonas e necessidades, afim de se poder inclusivamente fazer face às mesmas, com coerência e sem as falhas que se verificam.
Penso portanto, que é preciso muito mais...

Não queria ler mais notícias como a que li, infelizmente hoje, sobre uma mãe (médica -Hosp. Stª.Mª.) de uma menina com paralesia cerebral, que se fechou em casa enchendo-se e à filha com medicação, que pensou lhes retiraría a vida e o sofrimento em que provavelmente estavam as duas a viver, solitáriamente! Tenho receio até de imaginar outras mães que porventura lidam com a mesma batalha diáriamente, possam rever-se no problema, pensando na mesma resposta como solução!

Perdoem-me a exigência... mas esperava mais neste dia, espero mais todos os dias e luto por mais conforme posso, mas também cada vez vou podendo menos...
Perdoem-me as exigências mas é natural de quem também sente estas coisas na pele.
 
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