Quando o Vasco era bébé, projectavamos um mundo de sonhos e sucessos para ele. Penso que todos os pais caiem nessa "tentação", apesar de se saber que o futuro é algo perfeitamente incerto. Não obstante, é saudável e natural sonhar. E é inato no comum ser humano (felizmente).
Recordo que na altura lhe preparavamos o futuro, como se ele fosse certo... traçávamos-lhe o caminho, como se ele fosse nosso - mas os nossos filhos, na realidade, não são de ninguém. Temos sim a responsabilidade e o dever de os encaminhar, apoiar, guiar, e proteger, mas a "ultima palavra" não nos cabe a nós, pelo que ter a noção deste pequeno detalhe, talvez pudesse ter-nos poupado a alguma desilusão, que actualmente já não nos faz tanto sentido. Amar incondicionalmente é afinal de contas, aceitar um filho e o que o "destino" lhe reservou, sem prolongar sofrimentos devidos às nossas defraudadas expectativas de pais, quando a rota da sua vida lhe traça outros horizontes. Porque na verdade, enquanto há vida e caminho para andar, existirão sempre sonhos passíveis de realizar no horizonte, seja ele mais ou menos longínquo. Importa conseguir ter capacidade de o fazer, ajustando- os à circunstancia e com a humildade de saber aceitar de coração, o que vem.
Não é fácil, bem sei, mas não conheço melhor caminho para quem se depara, por exemplo, com a deficiência num filho - Chama-se "fase do luto", quando os pais percebem que tudo quanto tinham traçado para o seu filho até ali, será impossivel. Fala-se de luto quando naturalmente criamos expectativas (legítimas), para os nossos filhos e elas se mostram irrealizáveis. Denominam "luto", porque ocorre uma espécie da "morte" da criança sonhada... Percebo o sentido da expressão usada, mas exaspera-se-me sempre a expressão facial, quando oiço a frase, porque para mim a morte é algo sério, real, certo e que isso sim, será porventura a única situação onde terminam todas e quaisquer hipóteses de sonhar! Não uso portanto o termo.
O caminho dos nossos filhos é fruto de imensas condicionantes: desde logo, de si próprios e do seu próprio carácter, do meio que os rodeia, das inúmeras experiências que por eles possam passar, da resposta que em cada momento eles saibam e consigam dar e até do acaso. No nosso caso incluíem-se a tudo isto e com especial importância, as respostas concretas que a sociedade tenha para dar, às suas especiais necessidades (e esta é para mim a grande questão, que abordareí noutra altura).
É muita coisa para que nos permitamos sonhar; mas felizmente sonhamos e desejamos sempre o melhor do mundo para os nossos filhos.
Quando o Vasco era bébé tinhamos como projecto, a sua entrada num conceituado colégio privado, que - pensavamos nós - iria ser a base do seu sucesso pessoal e profissional no futuro. Hoje quase sinto vergonha de algum dia ter pensado assim! Quase me sinto básica das ideias, porque a felicidade é tanto, mas tanto mais que apenas isso... Quem escolhe o sucesso deles acabam por ser eles mesmo, Porque felicidade pessoal e profissional é fazer o que se gosta (seja lá o que for) e por tantas outras coisas, que aquele pensamento se me afigura hoje, como totalmente errado.
Deixo-vos por agora, com uma foto do meu Vasco fardado de escuteiro... Este é um verdadeiro sonho tornado realidade, do qual ainda procuro uma forma para expressar-me - escrevendo - porque ainda é maior que eu, toda a alegria que sinto por ele ter sido tão bem incluído lá! Ainda não consigo adequar às palavras, toda a carga emocional que a situação merece... mas aguardem, um dia vou contar-vos tudo, dizer-vos que por vezes quando a vida escolhe por nós, as escolhas são as mais acertadas, embora de início assim não nos pareça.