domingo, 20 de fevereiro de 2011

UM OUTRO SONHO


Quando o Vasco era bébé, projectavamos um mundo de sonhos e sucessos para ele. Penso que todos os pais caiem nessa "tentação", apesar de se saber que o futuro é algo perfeitamente incerto. Não obstante, é saudável e natural sonhar. E é inato no comum ser humano (felizmente).
Recordo que na altura lhe preparavamos o futuro, como se ele fosse certo... traçávamos-lhe o caminho, como se ele fosse nosso - mas os nossos filhos, na realidade, não são de ninguém. Temos sim a responsabilidade e o dever de os encaminhar, apoiar, guiar, e proteger, mas a "ultima palavra" não nos cabe a nós, pelo que ter a noção deste pequeno detalhe, talvez pudesse ter-nos poupado a alguma desilusão, que actualmente já não nos faz tanto sentido. Amar incondicionalmente é afinal de contas, aceitar um filho e o que o "destino" lhe reservou, sem prolongar sofrimentos devidos às nossas defraudadas expectativas de pais, quando a rota da sua vida lhe traça outros horizontes. Porque na verdade, enquanto há vida e caminho para andar, existirão sempre sonhos passíveis de realizar no horizonte, seja ele mais ou menos longínquo. Importa conseguir ter capacidade de o fazer, ajustando- os à circunstancia e com a humildade de saber aceitar de coração, o que vem.
Não é fácil, bem sei, mas não conheço melhor caminho para quem se depara, por exemplo, com a deficiência num filho - Chama-se "fase do luto", quando os pais percebem que tudo quanto tinham traçado para o seu filho até ali, será impossivel. Fala-se de luto quando naturalmente criamos expectativas (legítimas), para os nossos filhos e elas se mostram irrealizáveis. Denominam "luto", porque ocorre uma espécie da "morte" da criança sonhada... Percebo o sentido da expressão usada, mas exaspera-se-me sempre a expressão facial, quando oiço a frase, porque para mim a morte é algo sério, real, certo e que isso sim, será porventura a única situação onde terminam todas e quaisquer hipóteses de sonhar! Não uso portanto o termo.

O caminho dos nossos filhos é fruto de imensas condicionantes: desde logo, de si próprios e do seu próprio carácter, do meio que os rodeia, das inúmeras experiências que por eles possam passar, da resposta que em cada momento eles saibam e consigam dar e até do acaso. No nosso caso incluíem-se a tudo isto e com especial importância, as respostas concretas que a sociedade tenha para dar, às suas especiais necessidades (e esta é para mim a grande questão, que abordareí noutra altura).
É muita coisa para que nos permitamos sonhar; mas felizmente sonhamos e desejamos sempre o melhor do mundo para os nossos filhos.
Quando o Vasco era bébé tinhamos como projecto, a sua entrada num conceituado colégio privado, que - pensavamos nós - iria ser a base do seu sucesso pessoal e profissional no futuro. Hoje quase sinto vergonha de algum dia ter pensado assim! Quase me sinto básica das ideias, porque a felicidade é tanto, mas tanto mais que apenas isso... Quem escolhe o sucesso deles acabam por ser eles mesmo, Porque felicidade pessoal e profissional é fazer o que se gosta (seja lá o que for) e por tantas outras coisas, que aquele pensamento se me afigura hoje, como totalmente errado.

Deixo-vos por agora, com uma foto do meu Vasco fardado de escuteiro... Este é um verdadeiro sonho tornado realidade, do qual ainda procuro uma forma para expressar-me - escrevendo - porque ainda é maior que eu, toda a alegria que sinto por ele ter sido tão bem incluído lá! Ainda não consigo adequar às palavras, toda a carga emocional que a situação merece... mas aguardem, um dia vou contar-vos tudo, dizer-vos que por vezes quando a vida escolhe por nós, as escolhas são as mais acertadas, embora de início assim não nos pareça.

7 comentários:

Pink Poison disse...

Muita força, conheço alguém que adoptou uma criança deficiente que estava abandonada no hospoital... Faz hoje 18 aninhos o jovem... É o fenómeno da casa!!!

Mina disse...

Fico tão orgulhosa, em ver o Vasco de escuteiro, como se ele fosse um bocadinho meu, afinal sou uma especíe de "madrinha", para esta entrada. E sinto-me muito feliz, pelos resultados...
Agradecemos sempre aquilo que temos e á aqueles que nos ajudam a a fazer as escolhas acertadas e nos acompanham...
bjinhos e bom fim de semana

Rosa Carioca disse...

Quando era bem miúda, lembro-me dos amigos de meu pai perguntarem-lhe o que ele gostaria que eu fosse: médica, advogada, arquitecta.
Meu pai sempre dava a mesma resposta: - Quero que ela tenha a profissão que lhe faça feliz!
Acredito que sempre que olha esta foto, fica imensamente feliz, simplesmente porque o Vaco está feliz. E ainda terá muitos sonhos felizes realizados.

Sandra disse...

Os pais sonham o futuro dos filhos pq querem o melhor para eles... os pais precisam da existência desses sonhos, pq transportam a sua esperança, o seu desejo, o seu amor incondicional... Começam a sonhar mal sabem da gravidez e os planos são logo mais que muitos, mesmo antes sequer de pensarem em ouvir a criança anos mais tarde. E só eles, os filhos, é que poderão realizar esses sonhos...

Tu e o Miguel tiveram que voltar a sonhar para o vosso Vasco. E já conseguem ver sonhos realizados, como este dos escuteiros que vos deixa imensamente felizes. E o Vasco tem a grande sorte de ter uns pais exemplares capazes, apesar de tantas dificuldades que surgem e tão poucas respostas, de continuar a sonhar e a realizar sonhos.
Olho para essa fotografia e vejo um Vasco realizado, feliz, encantado.

Bj

Anónimo disse...

É normal os pais sonharem o futuro dos filhos, mas devem ser eles a fazer as suas escolhas, sem quaisquer condicionantes ou imposições dos pais.
Os casos que conheço de filhos que condicionaram o seu futuro, por imposição dos pais, são pessoas que vivem frustradas.
Parabéns pelo Vasco e, acima de tudo, aos pais do Vasco que ainda vão ter muitas mais razões para sorrir.

FILIPA disse...

AMO-VOS E SINTO-ME ORGULHOSA DE FAZER PARTE DA VOSSA FAMILIA.....

Fê blue bird disse...

"É muita coisa para que nos permitamos sonhar; mas felizmente sonhamos e desejamos sempre o melhor do mundo para os nossos filhos."

Minha amiga:
Como mãe compreendo-a tão bem, li e reli este seu comovente texto, não tenho muito mais a acrescentar porque a amiga disse tudo.
Os nossos sonhos são nossos e os dos nossos filhos são deles, tão simples quanto isto.

beijinhos

 
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