segunda-feira, 27 de julho de 2009

MISSÂO: IRMÃO

Durante algum tempo debatemo-nos com a questão de "dar" ao Vasco um irmão, ou não... Dificil escolha esta! Talvez a formulação da questão devesse ter sido: ter mais um filho, sim ou não? Dificil também, esta separação de àguas... uma envolve-se profundamente na outra e para nós não tem sido possivel qualquer espécie de distinção que nos aclare o pensamento, para podermos, em consciência, optar. A escolha, vai entretanto sendo feita - como muitos outros casais dos nossos tempos, pelos mais variados motivos - o nosso filho é um.
Retenho, no entanto, algumas palavras de um conhecido médico da praça - (cujo trabalho admiro) - contidas num livro sobre familias com filhos com necessidades especiais e seus irmãos sem essas necessidades. Passo a transcrever algumas frases, que a mim me fazem pensar:

"... fazia-lhe bem um irmão?"; "... pergunta, tantas vezes repetida por casais a quem nasceu um filho com deficiencia."; "A angústia, a incerteza da roleta biológica apelando à prudência - o desejo de alargar o núcleo familiar empurrando para o risco.";
"... Um filho não deve nascer em função de outro, mas sim porque existe o desejo genuíno dos seus pais em se tornarem responsaveis por mais uma vida. ... não me parece justo condicionar de forma premeditada o futuro de ninguém - nem resulta - a verdade é que o irmão "saudável" irá crescer, e na maturidade terá o desejo de constituir a sua própria familia, com exigências de disponibilidade que o poderão afastar, até em termos geográficos, de um irmão com deficiencia."; "... as crianças com deficiencia humanizam a experiencia de vida: pode-se errar, fazer disparates, ser-se menos que perfeito e ainda assim, ser-se bom."; "Também o privilégio de ser-se saudável está presente no quotidiano e isso deve pôr as prioridades (de vida) em ordem."; "O valor da tolerância, tão fundamental para uma vida em conjunto, é sentido todos os dias."; "...Por outro lado, é como se o Universo estivesse dividido por uma sólida parede de vidro, uma guerra de 2 mundos - de um lado a familia a protecção, o amor, do outro, aqueles que não nos dizem respeito. Um irmão consegue ver e estar dos dois lados, mas como justificar que até os amigos - para não falar dos transeuntes tenham medo, insultem e se assustem, com a mais inocente das pessoas? Dificil lidar com a ambiguídade de sentimentos que esta situação produz. Os amigos - minha mais do que necessária fonte de afectos, confidencias e cumplicicdades - não gostam do meu irmão. Depois, aqui ou ali, vêm à superficie dificuldades escondidas: ciumes, vergonha, zangas pela violação de privacidade do nosso espaço, sentimentos negativos, dificeis de resolver porque andam de braços dados com o remorço."; "... de qualquer forma, ser irmão, não é sempre tudo isso?"; "... no fim fica um laço invisível e indestrutível, que uma história que me contaram exemplifica: uma criança benzia-se e ao fazer o sinal-da-cruz, tocava na testa e dizia "Pai", no peito e dizia "filho" e, de ambos os lados do coração, de forma pausada, concentrada e reverente, fechava o circulo do amor: "mano e mana"!

E pensando bem, é ou não é dificil optar?

1 comentário:

Anónimo disse...

Que Post fantástico!!!! Tantas vezes pensei no mesmo...me interroguei, andei ás voltas!

Obrigada por seres assim...

Beijos

 
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