
Tenho andado um pouco mais afastada que o costume... Falta de tempo apenas.
Aproveitando a páscoa, fizemos uma "retirada espiritual", e rumamos para terras mais a norte.
Outras vidas (com menos net), e como costumo dizer, todas as vivências nos enrriquecem. Assim, sabe-me sempre bem uma boa mudança de ares, especialmente quando tenho os meus 2 tesouros perto de mim.
Visitamos os avós que ficam sempre radiantes com o Vasco.
Como devido à distancia, não nos vemos com frequencia, sempre que o vêem encontram-lhe tremendos desenvolvimentos, e nós concordamos porque felizmente são verdadeiros, mas eu particularmente receio um pouco expectativas demasiado elevadas, como por exemplo esperar pela total "normalidade" no futuro. No entanto, e como o futuro não nos pertence, mantenho-me no silêncio dos meus pensamentos, travando em mim divagações daquilo que podemos esperar sobre o futuro do nosso menino, que eu própria pouco sei. Duas coisas sei em concreto: o seu nome é Autismo e de momento não tem cura, (nem se prevê que venha a ter a curto prazo). Por certo, o tempo falar-lhes-á mais alto e mais acertadamente do que eu... Ficam-me, no entanto, a bater na cabeça, algumas frases reveladores das expectativas existentes, que estranhamente me agradam por breves instantes, mas que na realidade, bastante me preocupam. Não tereí nunca coragem de lhes explicar o que é exactamente Autismo, embora já lhes tivesse revelado o nome (que pouco lhes disse)... Não tereí nunca coragem para lhes dizer aquilo que já ouvi, que já li tantas vezes dos especialistas na matéria... No fundo acho que fujo de que alguma vez sintam a dor que senti inicialmente e que ma demonstrem, porque há muito que passeí essa fase e não a quero reviver através da dor dos outros. Apesar de compreender, vejo como profundamente errada a nossa dor inicial - aceitar não é sofrer.
Guardo-me, por isso, no meu silencio e prossigo no "retiro espiritual"! Saboreio-o... sabe bem sair para beber um café e passear, sabendo que o meu menino está bem e feliz se o deixar com os avós. É estranho viver rodeada pela esperança dos outros em que aquilo que o Vasco tem é simples e passará com o tempo... É estranho porque não é nada disso que povoa agora os meus pensamentos, nem o meu dia a dia, mas talvez seja melhor que as coisas sejam encaradas por eles assim! Quem sabe com o tempo.... O tempo - aquele que lentamente vai dizer-lhes aquilo que eu por agora silencio.
Ainda bem, porque eu não saberia fazer melhor. Ainda bem que será o tempo o mensageiro, porque quem sabe o tempo continue também a trazer sempre com ele os grandes desenvolvimentos que tem trazido até aqui... Ainda bem porque o tempo irá fazer por certo com eles o mesmo que me fez a mim, iluminando-me, enrriquecendo-me, fazendo-me sentir orgulhosa do meu menino como ele é, dando-me a noção de que o "tempo" mais importante é o agora e que é a esse que nos devemos agarrar e viver.