sexta-feira, 17 de junho de 2011

Simples e Concreto

O pensamento do Vasco é concreto, simples e influí significativamente no entendimento do que o rodeia, e nas respostas que consegue dar ao que lhe é colocado.
Em teoria, soube desde cedo (em literatura sobre autismo), que este viria a ser sempre um sério obstáculo. Mas só com o tempo, o tenho vindo a verificar na prática.
Para além do défice congnitivo que obviamente interfere, esta questão do pensamento também tem um peso imenso e temo que se possa confundir algumas vezes com uma maior limitação, do que à partida tem.
Nem sempre é claro perceber até onde vão as suas capacidades, até onde posso ir exigindo dele, ou o quanto posso faze-lo, sem estar a menosprezar ou exagerar expectativas. Ele demonstra situações nítidas de dificuldade, mas surpreende-me em muitas outras onde revela ser capaz de atingir objectivos importantes, especialmente se lhe formos capazes de explicar  "na sua lingua". É preciso entendê-lo, e depois estimula-lo por aí - dar-lhe para que ele possa corresponder, ensinar-lhe para que ele possa ter a possibilidade de aprender... dentro do que lhe é possivel, e sobretudo feliz com o que lhe for possivel! É preciso, empenho, dedicação, esforço e persistencia para aprender a sua lingua...
A sorte tem estado com o Vasco, personificada nas pessoas que o rodeiam e têm tido essa missão, mas às vezes pergunto-me - e se alguma vez deixasse de ser assim?

Hoje trouxe (orgulhosa) da escola, um questionário da opinião dos alunos em relação a certos aspectos da mesma.  As perguntas estão feitas para a generalidade das crianças e penseí de imediato, se o Vasco iria entender todas. Sabia que teria de lhas reformular de forma mais simples e concreta, mas faltava-me a certeza das suas capacidades para poder perceber e responder com o devido sentido.
"Isoleí-me" com ele, longe de qualquer foco de atenção que o pudesse distraír e de uma outra forma, fiz-lhe exactamente as mesmas perguntas.
Resultado: Questionário concluído para ser entregue - entendido e feito pelo seu punho.
Consolido assim a ideia que venho construíndo há muito:  A forma como as questões lhe são colocadas, é preponderante... Muitas vezes não é que ele não saiba responder... a forma como a pergunta lhe é colocada é que faz uma grande diferença.

P.S.:  E é isto que ao mesmo tempo me preocupa... Será que vai existir sempre quem o entenda e tenha vontade de falar com ele a sua lingua? Estarão as pessoas dispostas a aprender a lidar com outras formas de pensamento? Saberão colocar-lhe as questões de forma simples e concreta?

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