
Este blog, apesar de ter uma causa principal, também pretende mostrar que mesmo com uma causa maior no peito, é possivel caberem outras em nós ... Mostrar que mesmo convivendo com o autismo ou qualquer outra problemática num filho, se consegue sobreviver à natural pancada inicial e prosseguir a vida... (Pelo menos assim é desejavel). Felizmente ela é feita de muita coisa... coisas que procuro viver, aproveitar, conhecer. O meu filho é sem duvida a minha motivação maior e mais forte, mas também por ele me vou enchendo um pouco de tudo, para enrriquecer-me como ser humano, proporcionando-nos um "habitat" o mais natural e harmonioso possivel. Entendo que a aceitação e a "normalidade" tem de começar em casa. Não se pode querer uma aceitação de fora, sem que a tenhamos aceitado plenamente nós primeiro (os pais). Sei bem que não é fácil, por variadíssimos motivos, mas é imperativo! Como li num livro recente de Ruppert Isaac: "Devemos amar os filhos que temos" - excusava de dizer-mo a mim porque eu amo o meu filho incondicionalmente e tal qual ele é ou venha a ser!
Depois é ir levando os dias, qual padeira de aljubarrota contra um exercíto muito bem apetrechado mas com uns buraquinhos por onde vamos entrando porque temos uma pá muito rija, e sempre surgem uns bons companheiros de "guerra" que nos ajudam nesta contenda... muitos vão passando até para o nosso lado quando entendem melhor as coisas, outros - os mais importantes - estão mesmo connosco por sensibilidade e porque são na verdade GENTE.
No fundo sempre quis também transmitir que vivemos uma vida como todos - talvez apenas com um "peso" maior - que já tive a oportunidade de explicar, não se dever ao autismo do nosso filho em si, mas sim à forma como a sociedade o encara e lhe responde. De resto cá por casa, não somos extra-terrestes fechados no medonho mundo do Autismo, arrazados, paranoícos, ou frustados, como muita gente pensa erradamente dos pais com filhos "diferentes"...
Digo isto pelos olhares que nos dirigem, pelos comentários que ouvimos, pelas atitudes de afastamento que experimentamos, pela pena que percebemos sentirem de nós - que é bem diferente da solidariedade que nos prestam muitos amigos, por sensibilidade e superior mentalidade.
Claro que necessáriamente precisamos de maior apoio, de compreensão porque isto não é pêra doce... e é importante uma descriminação positiva. Podería tudo ser bem mais fácil, fosse a sociedade mais atenta, amiga, mais fraterna, mais responsável pela construção de um mundo melhor para todos, pensando que para isso é preciso não deixar ninguém de fora - não me refiro só à minha causa principal mas a tantas outras injustiças que proliferam e vão fazendo o mundo sofrer desnecessária e estupidamente! Somos nós que nos prejudicamos uns aos outros, não hajam dúvidas!
Apesar do sinuoso caminho que obviamente percorremos nos trilhos do Autismo, crescemos muito nele e muitas vezes adquirimos uma especial sensibilidade que nos permite a capacidade de olhar para muitos outros lados...
Mas gostaría aqui de deixar claro que apesar do sinuoso caminho, também fazemos aquilo que o comun mortal gosta de fazer: gostamos de ler, de aprender, de ver filmes para rir, e para chorar... gostamos de namorar, de conviver, de actualidade; preocupam-nos as alterações climáticas, a política, o desemprego... Particularmente eu (falo por mim), esforço-me por viver com um pouco de tudo, mesmo que nem sempre consiga as condições para tal, quer práticas (arranjar tempo), quer mentais (ter estofo psíquico para assimilar tanta coisa).
Sobre as práticas,: paciencia, espera-se por outras oportunidades; sobre as mentais: vão-se fazendo umas paragens nas leituras, nas buscas, nos convívios com e sobre Autismo... faz-se um reset de vez em quando para limpar e alíviar um bocadinho a mente e voltar depois à carga, renovada, porque muito terreno há ainda que desbravar.